É difícil ver alguém partir. Talvez seja ainda mais difícil quando o alguém parte devagar, perdendo-se e fazendo-se perder dos demais a cada dia. O adeus extenso é tão ruim porque você não é capaz de acenar e simplesmente virar as costas; é como se fossem dados passos para trás em sentidos opostos, os olhos vidrados no do outro, a mão ainda estendida.
É assim que eu vejo meu pai partir. Aos poucos, em cada momento que ele sente dor, que ele geme, que ele nos olha numa tentativa de soltar o grito que sua garganta já não pode mais produzir.
O silêncio de seus olhos suplicantes me dá reviravoltas no estômago e uma aguda sensação de dor extracorpórea. Suas pernas endurecidas e quase imóveis exigem uma força dos braços e da alma. A respiração difícil enche meu peito de angústia. As dores, a aflição e o mal estar, é tudo tão constrangedor para uma pessoa saudável como eu, mas acima de tudo... é perturbador.
Por isso tudo eu me perco. Em determinadas horas é revolta, depois desespero, logo vem a tristeza, seguida do desconsolo apático. E tudo parece bem mais penoso.
Há 2 anos, ainda de pé e falando, ele disse que eu não precisava ter medo, que dali em diante viveríamos cada momento sem pensar no futuro. Nunca consegui encarar as coisas assim, e agora é ainda mais difícil. Ele ainda tenta, com certeza, pois mantém o riso, escreve poesias com o mínimo movimento da mão, nos manda beijos pelo olhar e tenta sobreviver como pode. Ainda é forte, por nós dois.
Enquanto isso, eu me preparo. Para o dia seguinte, para o próximo obstáculo da doença, para a partida. E mantenho os meus olhos sobre ele, cada um dando seu passo para trás, com as mãos estendidas.
[às vezes é bom desabafar]
7 comentários:
Foi muito lindo ler isso.
Você escreve bem e, acima de tudo, sabe transmitir os seus sentimentos para o papel. É um dom.
Eu não te conheço, mas não aparenta, nem um pouco, que você não tenha a fibra necessária para superar tudo isso.
Cada obstáculo em nossas vidas nos deixa mais fortes.
Se vivêssemos em inércia, estaríamos atrofiados.
É por isso que passamos pelo que passamos, sem entender o que acontece.
O importante é termos ciência de que os eventos acontecem, mas de que tudo é aprendizado, seja ele qual for.
Continue forte, você consegue. ;D
;(
Não sei o que dizer, desculpa essa sua amiga que emudece diante da situação. Só quero que saiba que mesmo não sabendo o que dizer, pq eu também não compreendo e por tentar entender parece que me distancio de uma resposta. Mas mesmo assim, "tamae" sempre.
Há aproximadamente 10 anos atrás, meu pai viera a falecer. Obviamente eu não entendia muito bem o que estava acontecendo, mas sofria. Minha familia, desconsolada, resolveu procurar assistência através do Kardecismo. Antes da morte do meu pai, ele e minha mãe haviam separado-se uns dois anos antes. Segundo um mendium muito querido por nós, essa separação foi uma 'preparação' para uma separação maio que viria. Não estavamos e talvez, nunca estariamos preparados para esta separação 'maior', mas houve uma 'preparação de terreno que facilitou a concepção da idéia. De qualquer forma, meu pai e seu pai, pelo pouco que o conheço, eram super parecidos. Alegres, simpaticos, fortes e adorados e adoráveis. A maior missão que o um pai poderia fazer, o seu a fez. Colocou e educou maravilhosamente bem filhos e, especialmente, uma filha que amo tanto. Ele passou a você as caracteríticas mais notáveis dele: a força, persistência, carisma e uma luz própria. Há mais mistérios entre o céu e a Terra ao que desconfia nossa vã filosofia. SInta-se orgulhosa, talvez não fisicamente, mas seu pai, com certeza, pode caminhar de queixo erquido e peito alto, por que ele é fantástico. :)
Amo você.
:'(
Palavras de quem está de fora são inúteis nessas horas, por isso não vou me estender. Força, muita força pra vocês. Um beijo
Wi,
adorei. Principalmente porque sei a dor de uma partida. Que Deus os abençoe. Forças á ti.
Beijos
Estou aqui para os momentos de revolta, de tristeza, de apatia, e seja mais o que for.
TE AMO
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