sábado, 13 de setembro de 2008

Sonhos ou devaneios?

Ele sempre calado, conformado, sem se queixar, naquela vida simples de poucas ambições. Pouquíssimas. Mas um dia lhe veio uma vontade de sair por aí, conhecer gente nova, andar sem destino. Até porque a liberdade sempre o encantou.
E saiu do aconchego e da segurança de seu lar. Aproveitou a melhor oportunidade para armar-se de coragem e ultrapassar os portões da vigilância alheia. Primeira coisa que fez? Respirar o ar puro do mundo sem grades, portões e muros. A rua estava ali, com todo seu movimento, sua intensidade, sua inconstância e sua impessoalidade. Ele sabia que haviam regras, leis, normas de convivência mesmo ali na calçada ou no asfalto desgastado. Mas pouco importava.
Ele poderia caminhar por horas sem dar conta de seu rumo a ninguém. Comeria restos ou pratos requintados, dormiria onde quisesse na hora que melhor lhe apetecesse, faria amigos bons e ruins, confrontaria os inimigos que surgissem...
Ah, tantos planos e ele ali ainda parado! Inspirou profundamente e correu. Para a felicidade.
E ela veio iluminada pelo farol do ônibus, que lhe deu asas por instantes para jogá-lo num precipício de idéias e sonhos, onde ele enxergava cores, cheiros, rostos, desejos e todos os seus planos ali misturados de modo confuso e mágico. Caiu enfim com brusquidão no chão cinzento de listras amarelas e ainda pôde prever seu futuro tão maravilhoso.
Fechou os olhos, então. Mais um cachorro morria nas ruas de São Paulo.




[Tributo ao finado King! ^^]

Um comentário:

Anônimo disse...

Ah se eu tivesse a coragem do King...