segunda-feira, 27 de julho de 2009

Adeus sem lenço branco

É difícil ver alguém partir. Talvez seja ainda mais difícil quando o alguém parte devagar, perdendo-se e fazendo-se perder dos demais a cada dia. O adeus extenso é tão ruim porque você não é capaz de acenar e simplesmente virar as costas; é como se fossem dados passos para trás em sentidos opostos, os olhos vidrados no do outro, a mão ainda estendida.
É assim que eu vejo meu pai partir. Aos poucos, em cada momento que ele sente dor, que ele geme, que ele nos olha numa tentativa de soltar o grito que sua garganta já não pode mais produzir.
O silêncio de seus olhos suplicantes me dá reviravoltas no estômago e uma aguda sensação de dor extracorpórea. Suas pernas endurecidas e quase imóveis exigem uma força dos braços e da alma. A respiração difícil enche meu peito de angústia. As dores, a aflição e o mal estar, é tudo tão constrangedor para uma pessoa saudável como eu, mas acima de tudo... é perturbador.
Por isso tudo eu me perco. Em determinadas horas é revolta, depois desespero, logo vem a tristeza, seguida do desconsolo apático. E tudo parece bem mais penoso.
Há 2 anos, ainda de pé e falando, ele disse que eu não precisava ter medo, que dali em diante viveríamos cada momento sem pensar no futuro. Nunca consegui encarar as coisas assim, e agora é ainda mais difícil. Ele ainda tenta, com certeza, pois mantém o riso, escreve poesias com o mínimo movimento da mão, nos manda beijos pelo olhar e tenta sobreviver como pode. Ainda é forte, por nós dois.
Enquanto isso, eu me preparo. Para o dia seguinte, para o próximo obstáculo da doença, para a partida. E mantenho os meus olhos sobre ele, cada um dando seu passo para trás, com as mãos estendidas.


[às vezes é bom desabafar]

domingo, 26 de julho de 2009

Quando 2 + 2 = 0

No exercício da matemática mais imperfeita do mundo: é assim que o ser humano vive e se relaciona. Ninguém entende as incógnitas, as leis, os princípios e não sabe usar as fórmulas; mas todos fingem dominar os conceitos.
Talvez o mundo precise de mais sinceridade e menos orgulho. As conversas francas e as demonstrações claras de sentimento resolveriam todas as equações, dos casos de paixão avassaladora aos choques familiares.
Ou é isso ou minha visão de mundo que anda muito ácida.

quinta-feira, 23 de julho de 2009

Declaração

Eu choro e tudo continua meio ruim. Meio, porque uma professora da 3ª série me ensinou a ser comedida. Na verdade, eu já era, só fiquei mais.

sábado, 11 de julho de 2009

Ponto final pra recomeçar.

É fome e vontade do que logo dá nojo. Felicidade repentina proveniente de um aborrecimento relevante. Preguiça de fazer nada. Abatimento de tanto animar-se. Raiva passageira que perdura por dias. Desprezo pela importância de tudo. Sorte de sempre dar azar. Saudade de tudo que está perto. Tristeza nascida num momento de alegria. Amnésia das lembranças mais significativas. Doce amargura do azedo da vida. Revolta por aquilo que se entende. Gritos mudos de injustiça. Mudas vozes de ingratidão. Devoção descrente por um futuro que não surgirá. Inércia de um movimento inconstante que mantém-se firme. Sentido que não tem percepção.
Vc sabe o que é? Eu não sei. Só sinto. Só sinto muito.