quinta-feira, 26 de junho de 2008

Quatro amigas sentadas na escadaria suja, cada qual com seu afazer e preocupação.
A mais alta, no primeiro degrau, segura três livros sobre Trovadorismo e faz palavras-cruzadas. Seu sonho é escrever uma dessas cantigas de amigo, para poder desabafar sobre aquele que lhe elogiou a inteligência, a simpatia e a boca carnuda, mas que há duas semanas depois do jantar na casa dela sumiu. Ela não quer declarações apaixonadas, pedidos de desculpas acompanhados de flores e beijos ardentes ou qualquer coisa do gênero. Apenas um "oi" via e-mail ou uma sms com 10 caracteres já vale como o mínimo de respeito pelos tantos elogios outrora feitos e pela noite tão boa daquele dia.
Atrás da mais alta está a compenetrada oriental dos olhos verdes ajustando a câmera digital. É daquelas mulheres de fibra, de parar o trânsito e deixar marmanjos de queixo caído. Até quem não gosta de olhos puxados admite-se encantado por ela. Bom, menos ele, que preferiu trocá-la por uma garrafa de uísque e vários quilos de cocaína. Enfim, escolhas... Por um tempo ela chorou, mas sabe? A vida continua e homem tem de sobra. Logicamente, porém, nada disso mudará o fato de que durante 5 anos os dois partilharam da mesma cama e da mesma vida.
A baixinha - a mais falante e com mais história para contar - tenta organizar as coisas na mala, o que não deixa de ser uma atitude improdutiva. Ora, ela nem ao menos consegue organizar as idéias na cabeça, quanto mais seus pertences pessoais. Mas é disso que ela gosta: bagunça, desordem e tudo que há de desajustado no mundo! Conheceu um cara na formatura da prima ontem e já se diz loucamente apaixonada por ele, só que não quer desistir do affair com o marido da vizinha, afinal seu lema é "aventura representa a essência de viver!". As outras não apóiam, mas ela ignora as críticas e alega que se todo mundo fizesse o que dá vontade a felicidade não seria substantivo abstrato.
Por fim, a de óculos e cabelos chanel. No momento, lê uma matéria sobre intervenção urbana. Ela narra em voz alta as partes mais interessantes e tenta explicar para as demais o conceito da coisa. Em vão - quem ainda ouve não entende, não gosta ou não acha legal. Ela desiste e começa a lembrar do último sujeito com quem saiu - gostava dessas coisas. Mas ela enjoou, como sempre acontece. Não é sua culpa, os homens que se tornam repetitivos a partir da 25ª semana de relacionamento. Teoria de socióloga formada, ninguém discute.
No banco em frente pousa um casal de andorinhas. Tão mais simples a relação macho-fêmea entre os pássaros, não?






[Off: O sumiço foi por causa do fim de semestre. o/]

3 comentários:

Anônimo disse...

Quatro amigas, quatro histórias, quatro relacionamentos conturbados, quatro personalidades, pouco gerúndio, uma pergunta retórica e a conquista da sua leitora número 1!

Anônimo disse...

Gosto do seu blog. Por menos entendido que eu possa ficar, após ler algum texto seu, eu acho bacana a forma como você usa as palavras. É um conteúdo que prende minha atenção (coisa bem difícil, se tratando de leitura). Esse texto não foi diferente, gostei bastante dele.

o/

singela nostalgia · disse...

Mas agora não tem desculpa!
Próximo semestre ninguém vai deixar pra última hora... Já aprendemos! ahahahah

[tá linkada no meu blog]