Na maior parte das vezes, a inércia vence e, ainda que se saia da cama, não há ânimo ou vida, apenas uma sucessão de movimentos repetitivos, sorrisos mecânicos, olhares dispersos. E há uma mente que sempre imagina como seria se tudo fosse diferente - ou se ela mesma fosse o oposto daquilo que tem a oferecer ao mundo e ao restante do corpo.
Nessas condições, o tempo passa despercebido, até que, num dia frio e chuvoso, uma caminhada revela segredos e delícias escondidas dentro daquela mente decepcionada consigo mesma. E ela vê, no reflexo proporcionado pelas poças d'água da calçada, muito de si que perdeu-se em algum momento, em algum lugar. No meio dos anônimos que transitam por ali, encontra fragmentos, versões e ideias que pertencem a ela, mas que jamais foram descobertas.
Assim, como disse Florbela Espanca, "que me saiba perder... pra me encontrar", e para sobreviver.
Assim, como disse Florbela Espanca, "que me saiba perder... pra me encontrar", e para sobreviver.