Ele estava forte, imponente e cheio de coragem. Decidido a mostrar sua soberania e derrubar o que estivesse à sua frente. Arrebatador, sentia o mundo fragilizado por sua influência, por sua existência.
A destruição tornara-se deliciosa e causá-la era um prazer absurdo, embora questionável. Construir poderia ser até grandioso, mas levar as coisas ao fim, sem chance de reação ou reconstrução, era a melhor sensação que ele havia experimentado.
Atravessou ruas, praças, estradas e campos com uma virilidade que não cabia a mais ninguém. Ao atingir fronteiras distantes e inimagináveis, cansou-se. Ficou suave, tranquilo de sua força depois de gozar do poder que ela lhe concedeu. Acreditou que essa era parte da sabedoria dos grandes reis, dos verdadeiros déspotas. Via-se, então, como ser onipresente e intocável, inatingível aos outros seres comuns.
Seu orgulho cego, porém, foi mutilado no instante em que a viu. O oposto de sua imponência, ela era doce, frágil e todos os outros clichês pertinentes a quem – supostamente – tem a capacidade de permitir que um poderoso ouse ou se deixe amar.
E ele amou com vontade e com louvor, impondo toda sua intensidade numa relação que só ele cultivava. Ia todos os dias ao encontro dela, naquela árvore num canto da tímida fazenda. Nunca soube o que ela fazia naquelas manhãs, até porque parecia sempre fazer nada. Mas mentia para si mesmo, alegando que ao sentar ali cotidianamente, ela apenas fingia não vê-lo, num jogo de aproximação a partir da distância.
Com o tempo, decorou cada pedaço da sua pele e todas as fragrâncias que ela produzia naquele corpo delicado. Deslizava suave e discreto por seu cabelo ou por sua nuca arrepiada e a envolvia por completo, fazendo com que ela fosse sua, mesmo sem saber.
E apesar de a cada dia conhecê-la e senti-la mais, entendeu que jamais ela o enxergaria. Existia uma total indiferença, mesmo que aquela mulher percebesse sua existência. Mas não era o suficiente; e jamais seria.
Nesse dia, o desiludido decidiu ir embora. Nada mais restara daquele que um dia fora cruel, forte e poderoso. E nunca mais ele, o Vento, soprou as folhas daquela árvore sob a qual a moça descansava nas manhãs.